domingo, 20 de março de 2011

O LEGADO DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - PERRY APUD - 1985 (p. 555-556)



As mudanças que ocorreram com a Industrialização na agricultura, nos negócios, no trabalho, na tecnologia e na energia foram revolucionárias. Algumas dessas mudanças aconteceram no decurso de séculos, outras em algumas décadas. Mas o fim da industrialização não está à vista, nem estará provavelmente em um futuro previsível.

Com o passar do tempo, a Revolução Industrial tornou-se grande força para a democratização da vida humana. No mundo industrial, o poder social não está restrito a senhores de terras, como ocorreu em séculos passados. Mesmo os operários têm conquistado direitos políticos e sociais, adquirido educação e, em muitos países industrializados, se tornado consumidores de bens anteriormente reservados unicamente para os muito prósperos. Na última metade do século XIX, os trabalhadores ganharam o direito de voto – na França, como o resultado da revolução de 1848; na Inglaterra, mediante os Decretos de Reforma de 1867 e 1884 na Prússia, durante a unificação da Alemanha. Mas a conquista de direito de voto não trouxe igualdade ou mesmo poder político genuíno para as massas. Embora os trabalhadores se convertessem em uma força a ser levada em conta em todos os Estados Industriais, quando se filiaram a partidos democráticos ou socialistas e se reuniram em sindicatos, às vezes eram também manobrados e manipulados por líderes políticos que tinham pouca preocupação pelas suas condições de vidas e seus interesses.

A industrialização também contribuiu em grande parte para a secularização da sociedade (desprendimento da Igreja), isto é, com o agastamento com relação ao pertencimento a uma comunidade de famílias unidas por crença religiosa e cerimônias habituais. O papel do sacerdote, do povoado e da família, na vida individual, mudou drasticamente. Daí emergiu um vazio espiritual e comunitário que, para alguns, tinha que ser preenchido com substitutos: a nação, o governo, o partido político, a associação profissional ou ocupacional, o clube ou grêmio colegial, fraternal e étnico.

Devido à industrialização, grande número de homens e mulheres deslocou-se da área rural para o cenário urbano, ou de um continente para outro, o que alterou drasticamente suas vidas. A industrialização tem modificado as relações entre países, entre classes, entre sexos e entre pais e filhos. A industrialização concedeu às nações ocidentais o poder de dominar o mundo no início do século XX. Muitos povos tornaram-se os súditos dos países ocidentais, enquanto outros eram arrastados para a economia de mercado mundial, dominada pelos Estados Ocidentais. O surgimento da industria tornou as nações mais interdependentes mediante o comércio, mas também incentivou o conflito entre Estados, ao acrescentar a competição econômica e antagonismos nacionais já existentes.

A industrialização tornou os bens de consumo mais baratos e abundantes, elevando o padrão real de vida e tornando possível para o povo ter bens e serviços que anteriormente tinham sido reservados para muito poucos. A industrialização também fez, de um grande número de pessoas, as vítimas das condições de vida e de trabalho humildes, sujeitas a salários baixos e ameaçadas periodicamente pelo desemprego. Os homens de negócios usaram sua importância econômica para conquistar voz ativa nas decisões políticas e, depois, persuadir os governos a seguirem políticas benéficas para os negócios. Esse uso do poder político para objetivos econômicos foi imitado pelos trabalhadores, que passaram a exigir o direito de organizarem sindicatos, greves, o trabalho e às vezes chegavam até mesmo a exigirem o fim do capitalismo e o advento do socialismo.

A industrialização tem libertado a humanidade de muitas tarefas onerosas, elevado a média do padrão de vida e oferecido a promessa de um fim para a penúria. Ao mesmo tempo, a tecnologia tem criado tarefas que parecem triviais e insignificantes para os trabalhadores que não extraem nenhum sentimento de orgulho de seu trabalho e não sabem qual sua participação no processo global do trabalho – ou, se a conhecem, não a apreciam mais. A alienação dos trabalhadores pode ser acentuada se eles se sentirem sem forças quando confrontados com burocracias sem face, com resmas de papel, formalidades e normas arbitrárias.

Um padrão de vida mais alto tem sido adquirido à custa de uma dependência maior em relação às forças sobre as quais os trabalhadores, suas indústrias e, às vezes, mesmo seu país não tem nenhum poder. O mercado monetário mundial, a inflação, o controle energético exercido por algumas nações e as corporações multinacionais, tudo isso frustra as tentativas de controle individuais e dos países. E a tecnologia que sustenta promessas de novos e melhores meios de fabricação e de aprendizagem contém, ao mesmo tempo, possibilidades aterrorizantes de controlar os pensamentos e o comportamento humano e mesmo o aniquilamento do mundo.


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