CALVINO: o trabalho passa a ser valorizado com Calvino, na medida em que ele fornece um indício de salvação. Ao valorizar o trabalho, o protestante modifica a hierarquia de valores medievais que estavam voltados para a honra e a glória. Doravante, com Calvino, o trabalho é glorificação de Deus e deve ser realizado de modo sistemático e metódico.
A sociedade burguesa é aberta, ou seja, passivel de mobilidade social, é de classes, mercado igualitário (todos têm formalmente as mesmas chances na sociedade, pois no mercado todos podem ser iguais, no entanto, as condições de vida são desiguais antes dele) e não estamental. Aqui há a independência é formal, pois não se depende mais dos outros na sociedade mas sim da sua situação no mercado: ele classifica as pessoas. Há como critério de classificação das pessoas a meritocracia, ou seja, classificação pelo mérito, pelo talento no mercado de trabalho. A meritocracia vem de determinados indivíduos bem situados na sociedade: da burguesia. A carreira agora, portanto está aberta ao talento - dos burgueses, e não dos pobres.
A meritocracia escolhe os mais talentosos no mercado. Aparentemente, trata-se de um sistema democrático e igualitário, que seleciona os mais aptos e competentes entre os concorrentes. Então, aqueles que se esforçam que empregam sua vontade no aprendizado árduo, no trabalho sistemático e contínuo, conseguem os melhores postos no mercado de trabalho.
A meritocracia termina com os critérios aristocráticos de classificação social. Na sociedade estamental anterior às duas revoluções, os indivíduos dependiam da rede de relações sociais que estava a seu alcance. Agora, todos podem igualmente requerer e lutar pelos melhores cargos e por conseguinte, pelas melhores posições no mundo social.
Embora a meritocracia contenha, formalmente, a noção de igualdade entre os indivíduos, ela esconde determinados fatores sociais determinantes. Vejamos esta questão com mais detalhes: apesar de o mercado ser igualitário, isto é, de aceitar os indivíduos correntes como iguais entre si, ele não considera as condições materiais dos indivíduos antes de eles chegarem ao mercado.
Todo indivíduo ocupa determinada posição objetiva no mundo social, quer dizer, ele percente a uma classe específica e, a partir dessa situação, cumpre determinada trajetória social. Por exemplo, na sociedade burguesa, um filho de operário pouco qualificado está preso às suas condições materiais. Ele nasce em uma família com poucos recursos econômicos e culturais e tem pouquíssimas chances de ascender socialmente. Em sua trajetória, ele enfrenta precárias condições para estudar, pois a escola está situada muito longe da sua residência e os professores são pouco qualificados. Quando tal indivíduo chega ao mercado, ele formalmente tem as mesmas condições para competir por uma vaga que os outros candidatos. No entanto, suas condições de vida são totalmente distintas daquelas dos candidatos vindos da burguesia.
Na sociedade aristocrática o individualismo já existe; no entanto, a posição central da sociedade aristocrática se dá perante os títulos de nobreza, o status, círculo de conhecidos, parentes e amigos, em suma, proximidade com o poder soberano. O que organiza a sociedade são esse elementos que dependem um do outro, aliados à sociedade estamental. Ser bem relacionado é importante, portanto, na aristocracia que é ainda situada no absolutismo. Tal estratificação da sociedade portanto é fechada (sem mobilidade social).
SURGIMENTO DA SOCIEDADE DE CLASSES E TRABALHO LIVRE
MEIOS DE PRODUÇÃO: tudo aquilo que é fundamental para a produção de uma mercadoria.
PRODUTOR INDEPENDENTE + MEIOS DE PRODUÇÃO + FORÇA DE TRABALHO = PRODUÇÃO DOMÉSTICA DE TECIDO – SUBSISTÊNCIA MAS TAMBÉM PRODUÇÃO PARA O MERCADO
Assim, o mercado começa a se ampliar e se desenvolver mais, com ajuda dos protestantes. Logo, surgem mais produtores independentes e no séc. XVIII, próximo à Revolução Industrial esse produtor independente tem como adversário grandes produtores de tecido. Na verdade, a indústria. Essa indústria terá meios de produção + força de trabalho. Os donos dessas indústrias são a burguesia, portanto, quem detém os meios de produção é a burguesia, no entanto, a produção aumentou, a força de trabalho empregada é do operariado e não do burguês. Muitos dos operários são os produtores independentes que faliram e se empregam na fábrica. Há a separação dos meios de produção da força de trabalho. Nessa transformação, mudou tudo: a partir dessa mudança e da separação dos meios de produção e da força de trabalho temos a constituição de uma SOCIEDADE DE CLASSES, porque agora os trabalhadores que não são empresários são obrigados a vender a sua força de trabalho no mercado = SURGIMENTO DO TRABALHO LIVRE
Na sociedade aristocrática o individualismo já existe; no entanto, a posição central da sociedade aristocrática se dá perante os títulos de nobreza, o status, círculo de conhecidos, parentes e amigos, em suma, proximidade com o poder soberano. O que organiza a sociedade são esse elementos que dependem um do outro, aliados à sociedade estamental. Ser bem relacionado é importante, portanto, na aristocracia que é ainda situada no absolutismo. Tal estratificação da sociedade portanto é fechada (sem mobilidade social).
FORÇAS PRODUTIVAS (MEIOS DE PRODUÇÃO + FORÇA DE TRABALHO) +
RELAÇÕES DE PRODUÇÃO (RELAÇÕES DE PROPRIEDADE, DIZEM RESPEITO AO QUE VOCẼ POSSUI PARA TROCAR: OU MEIOS DE PRODUÇÃO OU FORÇA DE TRABALHO) caracterizam um modo de produção específico (capitalismo, feudalismo, etc). A economia atual tem desenvolvimento de maquinário e tem os trabalhadores. Marx diz que a cada nível de desenvolvimento de FP correspondem certas RC. A partir de um momento, as FP se desenvolvem mais rápido porque como a economia visa ao mercado, ou visa produzir mais, sempre mais, ela não tem amarras pra aumentar a produção. Logo, a economia sem amarras, racionalmente incrementa as forças produtivas, visando maior lucro. Mas as RC não dão conta desse desenvolvimento, no caso da sociedade estamental compara ao desenvolvimento da REVOLUÇÃO INDUSTRIAL. As relações de produção de dependência pessoal e sociedade fechada ficam atrasadas em relação às FP da burguesia. É necessário, nessas relações entre a sociedade aristocrática e a burguesa existir relações de independência, passando de sociedade fechada para aberta, com trabalho livre. Na sociedade aristocrática então fechada e estamental acontece a independência pessoal e a sociedade aberta (com mobilidade social), características da burguesia. Nessa passagem há mudança das relações de propriedade para acompanhar as mudanças da revolução industrial. A adequação é tão completa no surgimento do capitalismo que as RC conseguem suportar as constantes mudanças das FP, logo, o comunismo que era o novo modelo econômico que segundo Marx viria a suprir o capitalismo foi suprimido por este. No atual modelo econômico, a exploração da força de trabalho que havia na burguesia aumentou, mas é mais sutil, mas é justamente essa força de trabalho que consegue se adequar as FP que vão se desenvolvendo constantemente na sociedade atual.
A meritocracia é um produto das relações de produção, porque elas no capitalismo dizem respeito a uma separação entre meios de produção e força de trabalho, surgindo o trabalho livre. A partir dele temos a meritocracia. As RP são resultantes então da separação entre meios de produção e força de trabalho gerando então a meritocracia.
As relações de produção não acompanham então o desenvolvimento das forças produtivas porque a estrutura da sociedade (dependência pessoal, sociedade fechada sem mobilide social e sociedade baseada no favor e no privilégio e não no mercado) não favorecia a estrutura da revolução industrial que precisava do trabalho livre, que rendia mais ao proprietário. As relações de produção, que dizem quem detém as forças de trabalho ou o meio de produção são relações desiguais, característica do capitalismo, onde o detentor dos meios de produção está sempre em melhor condição do que o que detém a força de trabalho). Sendo as relações resultados do desenvolvimento do plano da economia, sempre se desenvolveram mais lentamente do que as forças produtivas no decorrer da história.
Para explicar as relações de produção, Marx apresenta a noção de ideologia, entendida em vários sentidos, entre eles:
1) Ideologia como conjunto de crenças de uma classe, com valores relativamente homogêneos e compartilhados, por exemplo: ideologia da burguesia, do proletário, etc; tal conjunto de crenças tem maior caráter político do que prático, inserido na vida privada. A idelogia então é o conjunto de crenças de caráter político visando interesses materiais. A meritocracia é uma ideologia da classe média. Uma crença do proletariado é por exemplo, na época de Marx, a revolução e superação da sociedade burguesa ou a crença no socialismo. - Uma ideologia atual da direita, revolucionária, do empresariado conservador e reticente ao progresso, assim como da classe média “burra” que busca ascender pessoalmente está atualmente na revista Veja.
2) Ideologia de discurso da burguesia deliberado e organizado visando ocultar as relações de produção da sociedade burguesa: tal discurso é feito por intelectuais da burguesia – o capitalismo. Busca-se nesse discurso disseminar a noção de igualdade, que esconde a desigualdade, noção de sociedade que defende o indivíduo livre no mercado e no direito (de ir e vir, de expressão e religiosa), no entanto, tal liberdade esconde a dependência do trabalhador em relação ao seu emprego por exemplo. As relações de produção do capitalismo não se alteram porque há de um lado a burguesia, de outro o proletáriado e de outro as classes médias. Cada classe social tem sua crença mas a burguesia passa seus principais valores para as outras classes sociais ocultando que são seus valores e dizendo que eles são universais. Logo, há a defesa de valores teoricamente universais mas que na verdade são valores e interesses burgueses. Um procedimento que perdura até hoje é falar do ser humano e não do indivíduo, tirando o caráter de classe dos indivíduos, criando um coletivo que não existe na prática. Tal procedimento da burguesia esconde dominação e tal discurso é encontrado no Manifesto Comunista. O capitalismo então produz uma reinversão da realidade. As mercadorias são importantes no mundo hoje, como se elas tivessem valores em si mesmos e esquecemos que elas na verdade tem valor de trabalho humano. Todos se enganam pela ideologia burguesa, que não considera na mercadoria que há o trabalho humano e relações sociais.
3) Ideologia gerada não porque uma classe tenta enganar a outra mas sim pelo movimento do capital que cria uma ideologia visando ocultar seus reais valores (ideologia que inverte a realidade): numa sociedade pré-capitalista com economia de subsistência há algumas necessidades básicas como A, B, C e D. Vários indivíduos elaboram, mantém esses elementos dos quais a sociedade necessita. Um por exemplo produz leite, outro carnes e etc. Digamos que um deles produza cenoura, considerando que ela não seja uma necessidade da sociedade. Passa esse indivíduo então a produzir beterraba que consiste numa necessidade dessa sociedade. Logo, a economia de subsistência é determinada pelo que a sociedade precisa, ela diz como então deve ser a economia. Numa sociedade mercantil capitalista, desde seu início e transição para o capitalismo industrial a estrutura da economia mercantil simples (porém capitalista) tem indívuos que separadamente produzem um determinado tipo de produto. A diferença dessa economia para a de subsistência tem como filtro a produção para o mercado. Logo, aqui, o mercado determina o que os indivíduos precisam ou não produzir – fala-se então de produtores independentes, produz-se o que quiser desde que o mercado necessite – supondo-se que o produto A não seja mais uma necessidade do mercado, não se produz mais tal produto. Portanto, o mercado formal, que é formalizado como se não existisse ninguém e se produzisse de forma independente, a bel-prazer, de forma atomizada (separados uns dos outros) voltada-se para o mercado. A diferença então reside no fato de que numa economia o controle da produção vem da sociedade e suas necessidades e na outra economia a necessidade vem do mercado. Não se trata mais de subsistência e sim criação de necessidades que são controladas indiretamente pelas sociedades. Os indivíduos agora são dependentes uns dos outros mas através do mercado, no sentido formalizado, no sentido de que para se produzir uma torta, vai-se à feira e compra ovos, galinha, leite, farinha de vários produtores independentes. Se ninguém mais quiser comprar tortas, você muda de torta para bolos. Ou seja, o mercado define o que será produzido, o que faz com que as relações dos indivíduos sempre passe por ele. Na economia de subsistência a dependência entre os indivíduos então é maior e mais direta do que na economia baseada em mercado, onde não se nota tão claramente o nexo entre os indivíduos, que é mascarados pelo mercado. Não depende de ninguém a estrutura da sociedade capitalista, que leva todos ao engano. Tal engano reside no fato de que a relação das pessoas passa sempre pelo mercado. As relações de produção estabelecidas entre os indivíduos também passarão pelo mercado (empresário-trabalhador), sendo estabelecidas por ele. O empresário no mercado quer comprar uma mercadoria, que seja, a força de trabalho, que é oferecida pelo trabalhador, que é proprietário de tal força. Essa relação de produção aparece no mercado como uma relação de propriedade, uma relação entre proprietários, o que tem os meios de produção e o que tem a força de trabalho. Tal relação é uma relação “entre iguais”, onde se oferece uma mercadoria e outro quer comprar tal mercadoria. O engano acontece porque o capitalismo joga as relações de produção por debaixo do tapete porque vemos mercadorias, porque elas determinam nossa vida. Vendo-se um notebook nota-se o preço dele, suas características e funções, mas não se pensa que ele é um trabalho humano, como se a mercadoria não tivesse relação com outras mercadorias. Tanto no caso de uma Ferrari quanto de uma borracha, ambas são frutos do trabalho humano. Mas o mercado – plano da circulação de mercadorias – mascara tão relação. E o que está por trás do plano da circulação de mercadorias, oculto, é o plano da produção dessas mercadorias. Deve-se pensar aqui então na separação dos meios de produção e das forças de trabalho, onde não vemos mais igualdade e sim desigualdade, onde não se vê mais liberdade e sim dependência. No mercado aparece então a IGUALDADE, onde um quer comprar e outro quer vender. No plano da produção há a DESIGUALDADE, pois o operariado detém só a força de trabalho e a burguesia, dos meios de produção. A estrutura da economia capitalista então, que apresenta o trabalho livre esconde na verdade que ele é desigual, dependente e que causa desigualdades. Que mostra que pode-se ser independente e ascender socialmente, quando de fato essa não é a realidade, tudo isso porque o mercado OCULTA a desigualdade e a dependência. Mesmo uma mão de obra qualificada está em dependência e inferioridade ao que tem os meios de produção. A burguesia depende do operariado mas na equação de dependência sempre está acima deste, com a exploração do trabalho do operariado. No plano da circulação a sociedade até se mostra interessante, que depende do talento dos indivíduos. Mas no plano da produção a realidade é mais sombria, onde se vê o sorridente capitalista e o capisbaixo operário. A mercadoria e o mercado dominam, portanto, a sociedade capitalista, visando lucro. Nessa estrutura em que a mercadoria ocupa um lugar central as relações dos indivíduos sempre são portanto intermediadas pela mercadoria, gerando a COISIFICAÇÃO das relações humanas ou sociais e a HUMANIZAÇÃO das coisas, ou seja, das mercadorias. A coisificação e a humanização consistem num processo conjunto, que ocorre ao mesmo tempo: na medida em que as relações sempre passam pela mercadoria e ela tem importância central na sociedade capitalista, ela faz com que as relações entre os indivíduos sejam coisificadas no sentido da relação entre o burguês e proletário por exemplo, onde o empresário que contrata a força de trabalho do operário usa essa força para obter o capital. O empresário é chamado de capitalista e o importante nessa relação é o capital, que define o empresário como capitalista. O capital aqui portanto é uma dinheiro (mercadoria) que se valorizou, numa relação comandada pela mercadoria portanto. O curioso é que os seres humanos produzem mercadorias, mas quem domina a sociedade não é o ser humano e sim as mercadorias. O capital, portanto, de acordo com Marx é o sujeito do capitalismo. O ser humano é nada mais que o objeto que produz as mercadorias, não têm importância máxima na sociedade, papel esse desempenhado pelo capital, que comanda as relações sociais. O empresário que compra a força de trabalho e que ganha capital é o capitalista. Aquilo que seria apenas um objeto para manipular a mercadoria (o capital) passa a de fato determinar quem o empresário é, ou seja, um capitalista. As pessoas no capitalismo não valem tanto, o que vale é o que tal pessoa consegue fazer com o capital – O CAPITAL DETERMINA O QUE A PESSOA É E AS COISAS DETERMINAM OS INDIVÍDUOS - Não determinados os objetos e sim somos formados por eles. A humanização das coisas é o outro lado da mesma moeda, no sentido de você sempre ser determinado então pelo que você tem. Os cargos ocupados, os produtos que temos nos determinam em relação dos outros indivíduos, pois tudo passa pela mercadoria e é ela que de uma forma de outra valoriza os indivíduos e determina como os indivíduos vão viver.
Inversão: no terceiro sentido de ideologia Marx diz que as coisas se invertem. Assim como à olho humano as coisas se invertem, na consciência humana a desigualdade aparece com igualdade, a dependência aparece como independência, a mercadoria aparentemente isolada na verdade é dependente do trabalho humano. Então, a realidade é invertida, no capitalismo, contudo, não enxergamos essa inversão. Essa é a ideologia do capitalismo.
Com a circulação das mercadorias, temos o plano da produção das mercadorias. Os consumidores no mercado só têm contato com as mercadorias prontas, logo, o consumidor fica alheio ao processo produtivo. Isso significa que temos no processo produtivo relações de produção que se dão basicamente a partir da separação entre meios de produção e força de trabalho. A burguesia detém os meios de produção e o operariado detém a força de trabalho. As pessoas não têm noção do processo de produção de mercadorias. No plano de produção o operariado ocupa determinado lugar na divisão social do trabalho, com isso, ele não sabe o que ocorre fora da área dele. Logo, ele está atomizado, porque ele é como se fosse um átomo, sem contato com os demais operarios. Os burgueses também são atomizados, no sentido de só saber aquilo que ele produz e não o conhecimento do todo, e muitas vezes o burguês não conhece o outro burguês, o que impede das pessoas de verem o todo, e faz perder-se cada vez mais os laços sociais, que são criados pelo mercado.
Com a mercadoria ocorre a naturalização das relações sociais, pois o indivíduo nasce condicionado à ideologia da mercadoria e do capitalismo. O resultado é que as relações que acontecem no plano da circulação parecem naturais às pessoas, privando-as de enxergar o plano da produção. Mas como ocorre a naturalização das relações sociais? Através de hábitos, costumes, como se tais naturalizações fosse naturais, que são passados através dos direitos, educação (pelas escolas), cultura (relações interpessoais do cotidiano), meios de comunicação e família, entre outros. As mercadorias, com a neutralização das relações sociais, passam a ser vistas isoladas do trabalho humano, esquece-se dele na mercadoria, passa-se a impressão de que tais mercadorias são isoladas no mundo. É aí que está a inversão.
As relações sociais são intermediadas pelas mercadorias sempre: elam se torna indispensáveis nas relações, direta ou indiretamente. Sejam relações amorosas, de pais e filhos, quanto mais o capitalismo avança mais as relações afetivas ficam dependentes do mercado. No pré-capitalismo as relações eram diretas entre indivíduos, agora, a relação passa pelo mercado, ou sejam, passam pelas mercadorias. No mercado, que existe igualdade e liberdade, pois você pode vender se você quiser. No mercado você é igual a outro ou mais rico se você quiser, logo, no mercado ninguém vale menos que ninguém. O plano do mercado por conta das mercadorias adquire importância tamanha que o âmbito da circulação fica paralisado, fica como se com “a imagem congelada”, e o mundo da mercadoria mostra-se como o mundo real. Aqui, a dependência desaparece, e o direito legitima a relação entre proprietários no mercado, e legitima o mundo da circulação de mercadorias. O Direito é o guardião do plano da mercadoria, da circulação.
Portanto, no plano da circulação, as mercadorias aparecem de uma forma e no plano da produção na verdade são outra coisa. No plano da circulação, as coisas aparecem com noções de “igualdade, liberdade, harmonia” mas na verdade, o que se revela no plano da circulação é no plano da circulação desarmonioso, desigual e dependência. Por que na circulação, na sociedade capitalista a mercadoria não aparece como é na verdade e sim distorcida? Por que seus reais valores são ocultados? Por que as mercadorias aparecem apenas na forma de circulação e a forma do processo de produção não é exibido?
A partir da estrutura da sociedade capitalista, por quê somos levados ao engano? Por que não é transparente a relação entre o trabalho que produziu a mercadoria e a mercadoria pronta? Por que a sociedade não vê o plano da produção?
Olhamos para o plano da circulação como se fosse a realidade do capitalismo, como se fosse tua totalidade e não como uma parte e todo o resto é escondido porque a ideologia capitalista, que não existe antes em outras estruturas é formada para ocultar tais valores. Tal estrutura capitalista passa a noção de que o sistema é igualitário, que é sinônimo de liberdade e de harmonia, de que todos podem crescer e “subir na vida”. Mas a intermédio das relações do mercado, caímos ao erro, porque o Direito “paralisa” as relações de mercado, as cristaliza. Quando duas pessoas se encontram no mercado para compra e venda. Tais pessoas são sujeitos de direito, formalizadas, e o direito e o mercado formalizam os indíviduos: são comprador e vendedor, são sujeitos formais, independente de seus nomes. São proprietários, esvaziados de conteúdo. Tais sujeitos são iguais no mercado porque nele a pessoa é apenas um comprador ou vendedor, que tem direitos que devem ser protegidos. No mercado, as pessoas são livres e no plano da mera forma, não há conteúdo, logo, quando se está no mercado, a sociedade é igualitária, onde pode se comprar o que quiser e vender o que se quer, que todos têm liberdade de compra e venda. Contudo, a ideologia esconde uma parte e mostra outra pois de fato, no mercado, as pessoas são livres, existe uma harmonia no ato de compra e venda sendo ambos sujeitos de direito (comprador e vendedor).
Para Bobbio, o Direito esvazia as pessoas de seu conteúdo, as formalizada. O indíviduo tem sentido formal, vago, esvaziado. Esse é o plano da forma, é o plano do mercado, onde as coisas aparecem como iguais, como sinônimo de harmonia e igualdade. Mas essa não é toda a verdade, que é o plano dos interesses conflitantes, das desigualdades. O mercado é universalista, também esvazia os indivíduos. O capital formaliza a produção, e o Direito legitima essa formalização. Congelada pelo Direito, tal noção de mercado nos faz ver o campo da circulação como se ele fosse tudo.
É, portanto, por causa de direito, por ser o sujeito de direito um sujeito econômico e por causa do mercado que o âmbito da produção não é mostrado no plano da circulação, com a formalização das pessoas, esvaziando o conteúdo dos sujeitos nas relações.
Mas por quê o âmbito da produção é escondido? Porque no mercado as coisas são formalizadas e os individuos olham o mercado e seus valores como se a sociedade capitalista fosse o que o mercado mostra. Olhamos a sociedade e vemos as pessoas como iguais, livres, independentes, dotadas apenas de talento, harmoniosas e etc. Olhamos o plano da circulação e achamas que ele é a sociedade capitalista como um todo por causa da formalização dos indivíduos. Sendo a pessoa sujeito de direito, formalizada, não caminha para o plano da circulação, até porque fisicamente não vemos o campo da produção. Pois o mercado é compra e venda, formalizado pelo Direito. Então, vê-se que o capitalismo é isso. Muito embora seja boa a formalização das pessoas nas relações, abstrai-se o plano da produção dessas relações.
No plano da produção, onde se produzem as mercadorias, existe uma separação entre os meios de produção e a força de trabalho. Antes do capitalismo ambos pertenciam à mesma pessoa. Agora, o detentor da força de trabalho é explorado pelo detentor do meio de produção. Entre o burguês e o operário existe uma relação portanto de desigualdade: um explora e o outro é explorado. Existe dependência, porque se o operário não vende sua força de trabalho, não sobreviverá. Existe conflito, porque os interesses são distintos: um quer enriquecer através da exploração do trabalho e o outro quer deixar de ser explorado. Contudo, esse campo da produção fica oculto do plano da circulação.
SOCIEDADE DE MASSAS
Cada classe tem uma visão de mundo e determinados valores, de acordo com sua classe. Segundo o primeiro sentido de ideologia burguesa, a visão de mundo se dá então de acordo com a base material.
De acordo com a segunda ideologia, mesmo que haja várias visões de mundo, a visão da burguesia é transmitida para outras classes, visando dominação. Algumas idéias da burguesia são transmitidas então para o proletariado, para as classes médias e etc. Não significa que as visões destes vão desaparecer mas sim que uma parte da ideologia burguesa será incorporada à sua visão.
Na terceira, a estrutura do capitalismo engana as pessoas. A ideologia é transmitida por meio das escolas, dos meios de comunicação, da família, etc. Durante o séc. XIX inteiro e consistentemente na metade do século XX, uma parte do operariado, contudo, era favorável à revolução, à derrubada do sistema capitalista. Uma parte do movimento operário era reformista, ou seja, lutava pela melhoria das condições de vida do operariado e da população em geral. Vivemos período de reformas por causa do movimento operário, com países em que o Estado provê uma sociedade menos desigual.
A sociedade de massa vai desorganizar o movimento operário. Lipovetsky fala do capitalismo de consumo e da cultura de consumo, desenvolvida a partir de 1880, sendo que há três fases a) até 1945 b) 1950-1970 c) 1980 até hoje. A sociedade atual, de consumo de massa, é vista no âmbito da circulação de mercadorias. Wright pensa mais na sociedade que se forma na década de 50, sendo a sociedade de consumo que não apenas consome muito, mas interessa à ele as características da sociedade, como a sociedade se comporta diante de um desenvolvimento baseado no mercado. A sociedade de massas se define por uma industria cultural, que é voltada à cultura, filmes, novelas, músicas. Quando essa sociedade se desenvolve, os indivíduos, no modo de ver as coisas, terão uma visão homogênea, com aproximação de comportamentos.
ADVENTO DA SOCIEDADE DE MASSAS – CAPITALISMO DE CONSUMO
Lipovetsky distingue três fases do capitalismo de consumo, que é fundamental para definir a sociedade de massas. A segunda fase é a mais relevante.
1ª fase: 1880 à segunda guerra mundial – por conta da Revolução Industrial houve aumento de produtividade e expansão do mercado, surgindo mercados nacionais integrados por transporte e informação. Surge o acondicionamento dos produtos (embalamento dos produtos) e invenção da publicidade, além das marcas. Os produtos num primeiro momento não tinham marcas, mas quando as grandes empresas surgem após a Revolução Industrial, as marcas começam a surgir. Surgem também grandes magazines (supermercado e lojas de departamentos), que incentivam a compra por serem organizados de forma a seduzir o consumidor a comprar os produtos, atrelando aos mesmos uma “mágica dos produtos”, realizada pela publicidade. Desenvolve-se portanto, nesse momento, uma cultura de consumo, que ensina às pessoas que é importante consumir e que esses produtos formam quem tais pessoas são. Historicamente, tal cultura de massas se dá pela Revolução Industrial, que cria um mercado bem constituído e desenvolvido, que no séc. XVI era precário. O consumo se torna consumo de massas também por ser em larga escala, mas ainda não é para todos, portanto, o consumo é restrito. Como nem todos são incluídos, o consumo também é uma forma de distinção social, pois alguns produtos não são consumidos por todos. Ou seja, como muitos não podem comprar, os que podem, se diferenciam. Na sociedade capitalista, de mercado, quem tem tal produto é melhor do que outro que não tem. As marcas dizem denotam claramente a idéia de competição.
2ª fase: a expansão do consumo se dá pra quase toda a sociedade, integrando todos no mercado, sendo um consumo, portanto, generalizado. O consumo como distinção social continua, mas os produtos que dão tal diferenciação têm que ser mais caros, impossibilitando qualquer um de tê-los. A diversidade de produtos também é maior. A marca também serve como distinção social. Essa é a cultura de massas de Lipovetsky. A segunda fase, contudo, chamada de sociedade de consumo de massas se refere à sociedade de massas de Writht Mills que se foca nos indivíduos e não no consumo, ao contrário de Lipovetsky. Logo, Mills faz uma distinção da sociedade de massas a partir da distinção entre público e massas. A diferença básica é a seguinte: o público está associado ao uso da razão, portanto, à indivíduos racionais ou autônomos, com capacidade de reflexão. A massa está associada à ausência de razão e à indivíduos que agem pela emoção, portanto, indivíduos irracionais e heterônomos, ou seja, sem autonomia, que não têm capacidade de reflexão. A distinção de Mills interessa até chegar na massa, da sociedade americana, que é uma sociedade de massas e não de públicos, ou seja, os indivíduos não pensam mais. Isso é um consenso entre os intelectuais.
3ª fase: hiperconsumo (consumo emocional – anos 80 até hoje) – aqui, a marca continua a permitir uma diferenciação social e o consumo passa a idéia de bem estar causado pelo produto, de felicidade.